quarta-feira, novembro 30, 2005

Falemos de gripe das aves, da dona Jaquina, da VCI em hora de ponta ou das contradições de Shakespeare...May I?


Deixemo-nos de filosofias ou divagações baratas. Importa talvez agora desviar as atenções para coisas mais simples, mais quotidianas, capazes de dar descanso ao belo do neurónio, que para problemas já ele tem que chegue quanto mais não seja com a gripe das aves. Faz sentido? Claro que sim. Discutam-se então as opções do primeiro-ministro, o porquê das ultrapassagens pela direita na auto-estrada, a mediocridade de pensamento da vizinha, o 4-3-3 demasiado afunilado do Rio de Moinhos ou o pretenso penalty sobre o Carlitos em Barcelos. Escolha difícil, hein?

Precisamos de uma boa intriga, nem que seja acerca do Zé que já não quer casar com a Jaquina ou do chefe lá do emprego que anda metido com a secretária faz um mês. Mesmo no nosso grupo de amigos, se a conversa parece mais morta que uma cerveja nas mãos de um rabi, não há melhor desbloqueador que aprofundar porque nos levantamos da mesa na semana passada quando o colega de turma x da namorada y se sentou ao lado dela sem ter direito a lambada no focinho ou no mínimo a repreensão oral da sua parte. Logo se descobre que x já teve paixão por y, que y confessou a z (sendo z a verdadeira amiga do casal, a tal que diz as verdades na cara, mesmo que a cara não lhe ligue patavina) que o x até era interessante, e que eu, namorado de y, no meio desta equação toda era igual a zero por não levar y a jantar fora há mais de uma semana e meia (sublinhe-se a importância do meia). Claro está que no final z conversou comigo, y confessa que fez cena de ciúmes com x para provocar 0, o que no final = jantar em restaurante indiano – muitos euros na carteira + com um bocadinho de sorte uma noite de sexo calorosa. Naturalmente que falamos em termos hipotéticos. Nem eu seria alguma vez igual a zero, muito menos escolheria restaurantes indianos para ir comer com uma letra do alfabeto. Quanto mais ia à pizza hut.

Agora mais a sério, ouvia eu há uns dias atrás, enquanto degustava cada momento do caos que apanhei na VCI em hora de ponta, um interessantíssimo anúncio na rádio em que um sujeito qualquer intercedia com sensatez o belo ícone do nosso imaginário colectivo que é esse tipo de tanga chamado tarzan: “olha tarzan, olha um elefante no alto da colina!” E pronto, volta e meia mete-se uma carrinha de trolhas à minha frente na bicha… O que daria certamente para mais uma divagação sobre a importância do civismo e da boa conduta na nossa sociedade, o número assustador de acidentes nas estradas portuguesas, a morte de neurónios causada pelas pás de trolha, etc, etc…Mas não vale a pena ir por aí. Moral da história: nunca percam tempo a tentar decifrar piadas inteligentes, quando menos se aperceberem, já houve algum esperto que se antecipou.

Ah, só para acabar, a sério que gosto de Shakespeare. Tenho o moço em boa conta. Agora só não percebo como é que o mesmo tipo que num ápice, em nome do amor, manda Romeu e Julieta desta para melhor, me vem dizer depois que o mesmo amor “cura todas as feridas”. Se essa é a solução, mais vale “a gente suicidarmo-nos uns aos outros”, tal como diria Elsa Raposo. Ou então não nos “aleijarmos”…

Portem-se bem (sim, vocês, fieis visitantes deste blog, o dois ucranianos que mantenho fechados na minha cave mais a miúda cujo computador recentemente piratiei)…

terça-feira, novembro 22, 2005

Um rumo...


Quis o mundo que os nossos caminhos divergissem sob o signo sempre decidido do destino. Não pensei sequer em lutar. Olha-se para a frente com a frontalidade que se nos assume em clarão de efémera coragem e reza-se para se esquecer o arrependimento. E depois é o acreditar em melhores desígnios, num coração forte e numa alma que não chore com lágrimas grossas um passado que nunca o chegou a ser realmente. Lugares ainda não percorridos, sensações não vividas, metas não atingidas. Enganar com peneira uma alma pobre de afectos e jurar que o passado não pode ser mais sombra deslocada e incómoda. Assim o peito aberto permita enfrentar as amarras de uma rede que tolhe. Que os laivos de sensatez e lógica exacerbadas naufraguem de uma vez em mar profundo. Assim o barco deixe de ser apenas ilusório e cumpra finalmente sua rota. Talvez a jornada se conclua um dia. Não peço novos continentes, cabos dobrados ou tesouros escondidos. Apenas um rumo…