Um tipo às vezes lembra-se que filosofia também é modo de vida e pára um pouco para meditar. Vem isto a propósito de uma conversa sobre realidades complexas, ou aquelas que julgamos menos simples que as outras, porque todas são simples até esbarrarem de frente contra a nossa cabeça. Ou nós esbarrarmos contra elas, o que em termos de efeito prático vai dar essencialmente ao mesmo. Parece-me fácil de perceber: quando a realidade nos mostra caminhos sinuosos, das duas uma, ou a ignoramos e seguimos a nossa vidinha ou a enfrentamos com pragmatismo e frieza. A única diferença é que no primeiro caso, ela mais tarde ou mais cedo vai acabará por esbarrar na mesma nos nossos narizes, só que com mais intensidade. Por isso mais vale tomá-la em conta enquanto é tempo.
Não espero demasiado da realidade. Limito-me a tentar percebê-la a cada dia que passa, com a consciência de que nunca a irei conseguir compreender totalmente (dito assim até parece cliché), mas que aos poucos me adaptarei melhor a ela e tornarei a minha vivência mais apetecível, por assim dizer. Em analogia com o que acontece no nosso processo de auto-conhecimento. Aliás, serão processos perfeitamente indissociáveis, não?
Valerá de pouco pensar que somos superiores à realidade, ou que a podemos de alguma forma modificar. Um dia um amigo dizia-me que a melhor forma de evitar um icebergue nunca é com um navio a todo o gás contra ele, mas sim com um pequeno bote que trataria de o desviar. Concordo em parte, que é como quem diz que às vezes, poucas, também sou a favor de um bom safanão, se assim tiver que ser. Ou melhor, se essa for a melhor forma de lidar com a realidade. Se é que há...
Às vezes só temos mesmo que a (nos) perceber...