“Vem por aqui” – dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem “vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
Há, nos meus olhos, ironias e cansaços
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…
Como, pois, sereis vós
Que dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “Vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se levantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí!
José Régio
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