sábado, setembro 24, 2005


E apenas pensar que o mundo é apenas um momento, um sopro, um gesto. Uma insignificância entre tantos factos incontáveis. A importância do agir. Move-te, usa, decide. Torneia por instantes a tua altivez e sobe aos píncaros da emoção. Torna-te em herói de película de acção, salteia muros e move montanhas, mas não te situes perpetuamente na sombra do teu ser.
Depois sim, poderás viver.

domingo, setembro 18, 2005

Devaneios...


Devaneios, conteúdos, tratados assinados entre mentes desconexas que tornam a existência momentaneamente mais aprazível. Serão significados ou simples alterações divagantes? Fluxos de água e suor e sangue com fim imprevisto, ou apenas lagos fundos de tesouros perdidos, encalhados num leito que se sabe nunca explorado? Almas inquietadas, suspensas, esperando juntas que o toque decidido do destino as una em jeito de fatalidade. Sons dispersos, mas decididos, vozes, muitas vozes, ecos distantes que auxiliam, orientam, qual ténue luz ao fundo do túnel que treina incessantemente o traço de um rumo…És tu capaz de cumprir teu desígnio? És voz interior, tu, que arrombas o meu corpo sem pudores de sensatez, és rainha que assalta seu reinado, és olhar lancinante com jeito desconcertante. É isto que busco? Que persigo, que procuro desde primórdios esquecidos, que sonho todas as noites com desatino constante?

domingo, setembro 11, 2005

Cântico Negro

“Vem por aqui” – dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem “vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
Há, nos meus olhos, ironias e cansaços
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…

Como, pois, sereis vós
Que dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “Vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se levantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí!

José Régio

terça-feira, setembro 06, 2005

Sentimentos


Há simplesmente sentimentos que não têm lugar no mundo das palavras. Ao olhar uma estrela cadente com o seu rasto luminoso espalhado pelo céu, perdem-se momentaneamente todas as bases da razão, as dicas da racionalidade ou as boas intenções da lógica. É como se por instantes nos roubassem o que quer que nos sobrasse de bom senso ou inteligência básica. Ou como se o quadro estivesse incompleto. Sem paisagem, sem cor, sem brilho que permita a ostentação da beleza que se quer ímpar, única, mas que no fundo não é mais do que qualquer outra tela...