domingo, outubro 29, 2006

O jogo...


A pedido de algumas famílias, aqui fica a crónica do clássico. Aquele jogo. O jogo...
FCP 3 SLB 2
Com um início de jogo agressivo, a pressionar bem alto e a cortar as iniciativas do adversário bem junto à área benfiquista, o FCP encostou o rival às cordas. Anderson e Quaresma conseguiam ter bola nos pés no último terço de campo e isso constitui, por si só, um risco que normalmente se paga caro. Daí que, já depois de Lucho ter posto à prova Quim e Anderson ter tirado tinta à barra, ambos em lance de bola parada, o golo de Postiga/Lisandro, tenha vindo mesmo a calhar para as ambições portistas. Indiscutivelmente um golo de sorte, mas também uma consequência lógica da sagacidade da entrada portista e, mais do que isso, do excelente momento psicológico que atravessa o avançado, rematador, dinamizador, chatinho para os defesas, para mim o melhor jogador em campo.

O Benfica, por sua vez, tal como disse o engenheiro, falhava claramente no processo defensivo (muito espaço entre linhas, falta de agressividade na luta pela posse de bola, desacerto nas marcações), contudo, desde cedo começou a explorar a brecha que era o lado direito da defesa azul, o lateral Fucile, jogador com grande propensão atacante mas demasiado tenro a defender. Leo só não fez mais porque o pé direito não o permitiu…

Sem tirar o pé do acelerador, o Porto chegou ao 2-0. Momento mágico de Quaresma, a limpar Nelson do lance e depois a “engatar” aquele fantástico remate em arco. O Benfica andou depois a deriva. Os azuis aproveitaram o elan e chegaram-se a ver cruzamentos de letra. Não será excessivo afirmar que cheirou a goleada. Mas surge depois o momento do jogo. Anderson sofre entrada dura de Katsouranis e sai, lesionado. Jesualdo não arrisca e reforça a intermédia com Meireles. 1º erro, Lucho não é jogador para assumir decisões na transição defesa-ataque, e com dois médios defensivos a linha baixa do meio campo portista parece vacilar (como se havia notado contra o Sporting). Notou-se variadas vezes quando o desamparado Fucile tinha que levar com Simão, Leo, as vezes Paulo Jorge. À falta de extremo para ajudar a defender (Lisandro é voluntarioso, mas ocupa ineficazmente os espaços, Quaresma simplesmente não vem), e com Lucho com mais liberdade para atacar, seria um dos médios mais recuados a ter a obrigação de fechar o flanco, o que nunca veio a acontecer durante todo o jogo. O Benfica consegue então equilibrar a contenda, acerta as iniciativas de ataque e esmaga completamente o lado direito portista, graças ao qual cria duas oportunidades de golo, por Kikin e Paulo Jorge. Helton responde com classe.

A segunda parte inicia-se ao mesmo ritmo. Os benfiquistas entram forte, sempre a atacar pela esquerda. Depois uma fase de equilíbrio, mais graças ao voluntarismo de Postiga e ao talento de Quaresma do que propriamente à capacidade de circulação de bola portista, quase nula depois da saída de Anderson. Com a entrada de Nuno Assis e Mantorras, o Benfica assume claramente a superioridade do jogo. Katsouranis aproveita a ingenuidade de Fucile e reduz. Jesualdo demora a reagir e quando faz, fá-lo mal. Tira o único desiquilibrador e faz entrar Tarik, sem ritmo e sem chama. Depois de perda de bola de Cech (era notório que não havia a quem passar a bola em fase da definição do último passe), uma jogada exemplar do contra-ataque benfiquista e o empate, por Nuno Gomes. Justo.

O final de jogo foi emocionante. Havia claramente duas equipas a procurar a vitória. O FCP aproveitou-se talvez do seu maior querer e da sorte do jogo que já havia mostrado ter aquando da marcação do primeiro tento. Ironicamente foi Fucile a lançar. Não já tão ironicamente foi Moraes a marcar. O miúdo foi a melhor (única boa) substituição do professor Jesualdo.
Em suma, o empate parecia-me o resultado mais justo. Mas também há que reconhecer, que nos momentos de superioridade, o Porto conseguiu mesmo encostar o adversário as cordas, e a infelicidade de Anderson, a meu ver, foi mais de metade da felicidade do Benfica. Mas fica o mais importante, um excelente jogo de futebol

sexta-feira, outubro 27, 2006

Sentiste?


Sentiste o mundo a parar?

As gotas da chuva que subitamente já não molhavam, as nuvens que agora já não corriam, a leve brisa do vento que por instantes cessou?

O momento de paz que se prolonga sem destino aparente, o pensamento que se afasta, para bem longe, para a terra do mar e dos luares brilhantes, das folhas secas decalcadas em cada passo teu, do bocadinho de céu deixado para trás pelos anjos em dia de pressa indevida…

Sei porque o sinto. Acabou-se o temor. Só porque algo acontece. Tu. Basta-me, envolve-me, engrandece-me, completa-me. Algures entre a indignação e a virtude…ou apenas entre o sentimento que permanece, imune a intempéries ou inundações mundanas, muito menos esse oceano…

Vejo as árvores de outra maneira, agora têm nome, personalidade, protegem-nos! A vida prega-nos cada partida… O beijo? :) sorrio, apenas. Quero que tudo seja assim… Um beijo, um sorriso, uma gota, um abraço, um sem número de acasos simples que esbocem esse trilho. Que a lua apareça em todas as noites. Que a água continue a correr, lentamente, nos rios. Que a terra, vista da lua, continue a ser azul…

O beijo? Sorrio, apenas…
PS.: este sol radioso…ou o poder do teu sorriso? ;)

sexta-feira, outubro 20, 2006

Dias...


dias

Aqueles dias em que se acorda ao contrário, virado para os astros do mal, amaldiçoando a chuva na vidraça que há bem pouco tempo nos afagava antes do sono…

Aqueles dias em que procura um rumo, se luta por esse reconhecimento, por essa festinha na alma que nos faça sentir melhor, se procura um sucesso firme, uma etapa verdadeira…

Os dias em que acordar não é mais do cumprir o piloto automático…

Valha-nos um recanto… A luz da lua, outra vez, as sombras de um encanto inesgotável, a beleza de uma alma tão pura que nos parece janela para o céu… Uma sorte que nos faz parecer indignos perante tamanha graciosidade…

Afinal acordei abençoado…afinal a chuva na vidraça mais não era que a antecâmara da tua visita, com o encanto de uma manhã de Outono, mais as folhas secas, o ambiente calmo e acolhedor, o gesto simples e afável, a ternura que só tu sabes oferecer…

“Will you still love me in the morning?”
“Forever and ever, babe…”

domingo, outubro 15, 2006

O talvez e o sacrifício


Tenho um banco no pátio em que me costumo sentar para escrever. Hoje lembrei-me do quanto havia já passado desde a última vez que o usara. Penso que talvez tenha mudado o meu sistema de orientações, de forma a que as divagações existenciais já não mereçam espaço privilegiado por entre as preocupações rotineiras ou os assuntos de amor que tanto enobrecem a alma. A mesma ordem de razões que me impedem de deixar escorrer aquele lado manhoso de temporadas passadas, de trago fácil e cigarrada à descrição, estórias contadas ao sabor de um cálice e de um discurso sentido. Talvez com propriedade possa dizer que me sinto velho. Talvez não esteja talhado para viver entre as preocupações mundanas da sociedade que nos acolhe. Ou talvez apenas não queira aceitar os sacrifícios como vivências quotidianas como toda a gente os vê. Talvez não olhe para o sacrifício como algo curriqueiro, porque na equação simples da vida sempre me habituei a olhar para ele apenas como um meio para atingir um fim. Um fim que mais não represente do que o inicio de uma nova luz, um fim que motive, que nos lembre o que fazemos por aqui, o objecto de uma existência. Um fim que nos orgulhe…e que nos trace um rumo. Dito assim, quase que aposto, ninguém lhe chama sacrifício

"Temos de renunciar ao mundo para o compreender."
Jean Grenier