quinta-feira, dezembro 15, 2005

E por vezes

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos. E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira

quarta-feira, novembro 30, 2005

Falemos de gripe das aves, da dona Jaquina, da VCI em hora de ponta ou das contradições de Shakespeare...May I?


Deixemo-nos de filosofias ou divagações baratas. Importa talvez agora desviar as atenções para coisas mais simples, mais quotidianas, capazes de dar descanso ao belo do neurónio, que para problemas já ele tem que chegue quanto mais não seja com a gripe das aves. Faz sentido? Claro que sim. Discutam-se então as opções do primeiro-ministro, o porquê das ultrapassagens pela direita na auto-estrada, a mediocridade de pensamento da vizinha, o 4-3-3 demasiado afunilado do Rio de Moinhos ou o pretenso penalty sobre o Carlitos em Barcelos. Escolha difícil, hein?

Precisamos de uma boa intriga, nem que seja acerca do Zé que já não quer casar com a Jaquina ou do chefe lá do emprego que anda metido com a secretária faz um mês. Mesmo no nosso grupo de amigos, se a conversa parece mais morta que uma cerveja nas mãos de um rabi, não há melhor desbloqueador que aprofundar porque nos levantamos da mesa na semana passada quando o colega de turma x da namorada y se sentou ao lado dela sem ter direito a lambada no focinho ou no mínimo a repreensão oral da sua parte. Logo se descobre que x já teve paixão por y, que y confessou a z (sendo z a verdadeira amiga do casal, a tal que diz as verdades na cara, mesmo que a cara não lhe ligue patavina) que o x até era interessante, e que eu, namorado de y, no meio desta equação toda era igual a zero por não levar y a jantar fora há mais de uma semana e meia (sublinhe-se a importância do meia). Claro está que no final z conversou comigo, y confessa que fez cena de ciúmes com x para provocar 0, o que no final = jantar em restaurante indiano – muitos euros na carteira + com um bocadinho de sorte uma noite de sexo calorosa. Naturalmente que falamos em termos hipotéticos. Nem eu seria alguma vez igual a zero, muito menos escolheria restaurantes indianos para ir comer com uma letra do alfabeto. Quanto mais ia à pizza hut.

Agora mais a sério, ouvia eu há uns dias atrás, enquanto degustava cada momento do caos que apanhei na VCI em hora de ponta, um interessantíssimo anúncio na rádio em que um sujeito qualquer intercedia com sensatez o belo ícone do nosso imaginário colectivo que é esse tipo de tanga chamado tarzan: “olha tarzan, olha um elefante no alto da colina!” E pronto, volta e meia mete-se uma carrinha de trolhas à minha frente na bicha… O que daria certamente para mais uma divagação sobre a importância do civismo e da boa conduta na nossa sociedade, o número assustador de acidentes nas estradas portuguesas, a morte de neurónios causada pelas pás de trolha, etc, etc…Mas não vale a pena ir por aí. Moral da história: nunca percam tempo a tentar decifrar piadas inteligentes, quando menos se aperceberem, já houve algum esperto que se antecipou.

Ah, só para acabar, a sério que gosto de Shakespeare. Tenho o moço em boa conta. Agora só não percebo como é que o mesmo tipo que num ápice, em nome do amor, manda Romeu e Julieta desta para melhor, me vem dizer depois que o mesmo amor “cura todas as feridas”. Se essa é a solução, mais vale “a gente suicidarmo-nos uns aos outros”, tal como diria Elsa Raposo. Ou então não nos “aleijarmos”…

Portem-se bem (sim, vocês, fieis visitantes deste blog, o dois ucranianos que mantenho fechados na minha cave mais a miúda cujo computador recentemente piratiei)…

terça-feira, novembro 22, 2005

Um rumo...


Quis o mundo que os nossos caminhos divergissem sob o signo sempre decidido do destino. Não pensei sequer em lutar. Olha-se para a frente com a frontalidade que se nos assume em clarão de efémera coragem e reza-se para se esquecer o arrependimento. E depois é o acreditar em melhores desígnios, num coração forte e numa alma que não chore com lágrimas grossas um passado que nunca o chegou a ser realmente. Lugares ainda não percorridos, sensações não vividas, metas não atingidas. Enganar com peneira uma alma pobre de afectos e jurar que o passado não pode ser mais sombra deslocada e incómoda. Assim o peito aberto permita enfrentar as amarras de uma rede que tolhe. Que os laivos de sensatez e lógica exacerbadas naufraguem de uma vez em mar profundo. Assim o barco deixe de ser apenas ilusório e cumpra finalmente sua rota. Talvez a jornada se conclua um dia. Não peço novos continentes, cabos dobrados ou tesouros escondidos. Apenas um rumo…

domingo, outubro 30, 2005

Onde se fala de filosofias, fragmentos, encenações, ou simplesmente da tua beleza...


Desatina-se com o sofrimento, escapam-se divagações, filosofias e outras tretas de somenos importância que o vento deixa levar sem queixa alguma. Acorda-se no outro dia pronto a travar novas batalhas. Há-de sempre ser assim, a inconstância, a instabilidade, a pequena loucura da montanha-russa de emoções que não passa do espelho de uma vida fragmentada. Contam-se os pedaços e retorna-se, lentamente, a remontar o puzzle, como se estas peças que parecem fáceis o fossem realmente. O caminho é longo, mas eternamente repetido. Esquecem-se as pessoas, porque a memória é curta, que foi só há dois dias que o travesseiro recolheu lágrimas e que o mundo parecia estar todo ao contrário. Sofre-se e alegra-se, ao mais típico gesto teatral. Pergunto-me a mim próprio se a vida não passará disso mesmo, uma eterna e rocambolesca encenação…

O coração esgota-se, esgota-se como o odor do teu cabelo e a brevidade dos teus gestos harmoniosos, cansa-se perante tamanhas demonstrações de graciosidade sem fins previstos pela ordem da lógica. Assim, belos em todo o seu esplendor… Sim, os teus olhos, a tua boca, a tua aura de ancestralidade que me faz pensar por vezes não conviver no planeta desses demais que nos circundam. Fujamos juntos para o céu e para as nuvens, tracemos um rumo diferente de tudo o que soa a ordem e atino. Serias capaz de mudar o mundo? Então e eu?

sábado, setembro 24, 2005


E apenas pensar que o mundo é apenas um momento, um sopro, um gesto. Uma insignificância entre tantos factos incontáveis. A importância do agir. Move-te, usa, decide. Torneia por instantes a tua altivez e sobe aos píncaros da emoção. Torna-te em herói de película de acção, salteia muros e move montanhas, mas não te situes perpetuamente na sombra do teu ser.
Depois sim, poderás viver.

domingo, setembro 18, 2005

Devaneios...


Devaneios, conteúdos, tratados assinados entre mentes desconexas que tornam a existência momentaneamente mais aprazível. Serão significados ou simples alterações divagantes? Fluxos de água e suor e sangue com fim imprevisto, ou apenas lagos fundos de tesouros perdidos, encalhados num leito que se sabe nunca explorado? Almas inquietadas, suspensas, esperando juntas que o toque decidido do destino as una em jeito de fatalidade. Sons dispersos, mas decididos, vozes, muitas vozes, ecos distantes que auxiliam, orientam, qual ténue luz ao fundo do túnel que treina incessantemente o traço de um rumo…És tu capaz de cumprir teu desígnio? És voz interior, tu, que arrombas o meu corpo sem pudores de sensatez, és rainha que assalta seu reinado, és olhar lancinante com jeito desconcertante. É isto que busco? Que persigo, que procuro desde primórdios esquecidos, que sonho todas as noites com desatino constante?

domingo, setembro 11, 2005

Cântico Negro

“Vem por aqui” – dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem “vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
Há, nos meus olhos, ironias e cansaços
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…

Como, pois, sereis vós
Que dareis impulsos, ferramentas, e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos…

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios.
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: “Vem por aqui”!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se levantou.
É um átomo a mais que se animou…
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou,
Sei que não vou por aí!

José Régio

terça-feira, setembro 06, 2005

Sentimentos


Há simplesmente sentimentos que não têm lugar no mundo das palavras. Ao olhar uma estrela cadente com o seu rasto luminoso espalhado pelo céu, perdem-se momentaneamente todas as bases da razão, as dicas da racionalidade ou as boas intenções da lógica. É como se por instantes nos roubassem o que quer que nos sobrasse de bom senso ou inteligência básica. Ou como se o quadro estivesse incompleto. Sem paisagem, sem cor, sem brilho que permita a ostentação da beleza que se quer ímpar, única, mas que no fundo não é mais do que qualquer outra tela...

segunda-feira, agosto 15, 2005

Vacaciones


Olá... Fui de férias. Dormi, comi, vi tv, fui à praia tostar e banhar-me nas ondas cm se nao houvesse amanha, dancei, bebi uns copitos nos bares da zona, dei por mim a escrever na areia às 4 da manhã ou a apreciar languidamente o pôr-do-sol. O que isso vos interessará? Nada, é só mesmo para meter inveja. O que é certo é que a vida seria ainda mais bela com mais imagens como esta...
Gostava de um dia poder ser digno da tua beleza, do teu sorriso, da graciosidade com que te patenteias, te moves, pensas, existes… Sonho com o dia em que o luar será testemunha da nossa comunhão com as estrelas, em que o toque doce dos astros nos una para sempre em harmonia celestial…
astolfo 05'

domingo, julho 31, 2005

Thoughts...


Quero mais mas não posso, desejo mais mas não consigo, sonho mais mas não realizo. Que filme este, de película barata e cinzenta, esburacada e amorfa, sem vontade de alegrar ou de viver. Qualquer coisa divertida? Não existe. Não chega sequer para colorir uma noite vazia, impregnada de suores frios e insónias tardias. Não chega, não convence, não faz a sua viagem. Não vem do país dos sonhos, espalhando rastos luminosos ou arco-íris delirantes. Porque pura e simplesmente não existe. Ou não aparece. Ou não se digna em fazer cumprir o seu destino, juntar-se à sua metade, concretizar o sentido da sua existência. Talvez seja assim, o nada. O vazio assusta. Mas não é ignorado, subestimado. Faz parte da vida, como o fel do mel, o negro do branco, a covinha do teu sorriso que te faz mais tua, digna de si. É assim que te desejo, com defeitos, com manchas, com um passado e um presente, mas sempre com a covinha do teu sorriso, que faz de ti única, perene, incomparável…mas acima de tudo, real…

domingo, julho 24, 2005

Paisagens...


Uma boa paisagem é como uma janela para o nosso interior. Revela aquilo que somos e o que fomos, que queremos e o que conseguimos. Antecipa o futuro e faz recordar o passado. Congela o momento. Aquele momento que devia durar para todo o sempre, o momento em a história pára, os sons, as imagens, os odores se tornam únicos, inolvidáveis… Não desejava que fossem apenas momentos, mas perderiam irremediavelmente toda a sua magia se não fossem assim, tão tristemente efémeros. A fugacidade parece ser a estranha e masoquista condição para que sejam paradoxalmente duradouros, mas apenas na mente. Porque aí se tornam eternos, incomparáveis…esculpidos por hábeis artífices, prontos para ser delicadamente deixados na maior prateleira da nossa memória, brilhando perante toda uma série de recordações…

sábado, julho 16, 2005

Just stuff...


Cheguei, finalmente, ao fim do meu percurso académico. Acabaram-se as aulas e os testes, os professores e os exames, os estudos ao fim-de-semana e os agitados trabalhos de grupo. Festejei com uma bela jantarada, acompanhado pelos verdadeiros amigos, aqueles cuja faculdade foi apenas formalidade para que tivéssemos a oportunidade de nos conhecer. Há contudo neste momento para tantos de alegria imensa, um estranho sentimento de perda ao qual não consigo fazer frente. É como se ao fim de tantos anos de preparação para algo de importante, nos apercebêssemos finalmente que o realmente importante não é o que vem a seguir, mas sim o que se acabou de passar. E sem retorno possível. É, no mínimo, uma sensação estranha, mas não choro ou entristeço. Dou razão a Graham Greene: “no momento da comoção sofre-se pouco.”
Vejo a “Guerra dos Mundos”, protagonizado pelo maluco do Tom Cruise e assinada por baixo pelo velho Spielberg. Bem vistas as coisas, a grande razão que me levou a levantar do sofá e sentar-me nas cadeiras do cinemax. Apesar de não o achar nenhum génio, verdade seja dita que tudo onde o homem mete a manápula costuma ter selo de qualidade. Chego ao fim e reflicto. Bom drama, sem dúvida. Mas esperem aí, drama? Ter-me-ei equivocado na etiqueta? Lamento, mas não. Apesar das espectaculares e visualmente apelativas sequências de acção, o filme nunca se consegue descentrar do dilema de um pai totalmente perdido na sua gloriosa missão em salvar a família. São muito bem conseguidas, diria mesmo que brilhantes, as cenas de pânico, de claustrofobia, de uma quase piedosa comiseração pela espécie humana. Mas desenganem-se os que buscam uma guerra com alienígenas. A única guerra neste filme, é mesmo a do Homem com os seus próprios sentimentos.

PS: Há pôres do sol simplesmente fantásticos, não acham?

sexta-feira, julho 08, 2005

Reconhecimento...


Por muito que me apontem explicações intrincadas, sempre irei achar que o objectivo uno de todo e qualquer ser humano é de teor bem simplista: obter o reconhecimento dos outros. Observe-se cautelosamente as conversas banais de mesas de jantar ou barbeiros e que se regista? Que os nossos maiores e mais pequenos feitos só obtêm validade se devidamente considerados pela opinião sábia de que nos rodeia, independentemente da sua cor, raça, aptidão profissional ou animal doméstico. Convenhamos, é impossível fugir a esta tese. Afinal, as mais altas instâncias da instrução pessoal não só seguem o método como o incentivam vorazmente. De que nos serviria um mestrado ou doutoramento sem o respectivo canudo religiosamente pendurado na parede do quarto?
PS.: Após o pedido de inúmeras famílias e alguns emigrantes de leste, e depois de encontrada alternativa viável a esse intrincado enigma filosófico que é o programa Hello, decidi finalmente começar a publicar algumas das minhas fotos. O que terá a ver a dita flor com o post, perguntarão vocês. Absolutamente nada, direi eu. A beleza cabe em todo o lado...
PS2.: Nexinha, bem sabes que a parte dos emigrantes de leste e das famílias era a brincar :p Obrigado pela dica. Bjokas

sexta-feira, junho 24, 2005

Saint Jon

Hoje pus-me a olhar para este cenário. Isto anda um bocadito fracote…Pois é, uma vida muito ocupada. E uma mente também… Enfim, hoje é dia de Saint Jon. O povo diverte-se, os balões sobem ao céu, dão-se firmes marteladas como se não houvesse amanhã. Comem-se as belas das sardinhas. Ainda as sinto a navegar no intestino delgado, afogadas no meio do azeite. Que se seguirá, o regresso do alho-porro assassino?

Ponho-me a olhar para o céu. Há fogo de artifício, um 747 a piscar ao longe e um balãozinho com a sua luz deambulante prestes a desaparecer no horizonte. A lua não aparece, deve estar envergonhada. Mas anteontem estava magnífica. Grande, majestosa, cheia de luz, de brilho incandescente e de magia por entregar. Era o dia mais longo do ano e a rainha do baile não podia faltar à festarola. Hoje a noite é para outras luzes. Nada de protagonismos exacerbados, bem entendido. Quem diria que os astros podiam ser tão inteligentes? ;)
Ah, e não, por favor não me peçam mais para meter imagens aqui. A sério, chega de mails e telefonemas intimidatórios. Simplesmente recuso-me a trabalhar com o Hello. Afinal, que se poderá pedir mais de um programa com um nome tão cinicamente ridículo?

domingo, junho 12, 2005

Bla bla bla bla bla bla

Olá povo! (ou o que resta dele) Ultimamente o tempo tem sido escasso, por isso escrita só mesmo nas aulas...e pouca porque canso-me depressa. De resto, o costume, frequências, trabalhos, o trabalho de apresentar o trabalho, cinema e fugir das praias o mais possível, não vá um arrastão apanharmo-nos e deixar-nos com as mãos a abanar...
Bem, tou cansado. Deixo-vos portanto umas linhas de prosa da minha amiga ishta, companheira de aventuras... jornalísticas e afins, e sra de talento respeitável nestas lides. Portem-se bem.
"O vazio. Ultrapassa as fronteiras, define os contornos e as formas de uma sala, as formas de um corpo e as dimensões de mim. Entra para lá das portas fechadas, e preenche o limiar da memória, sem sequer as abrir. Preenche páginas, enche caixas de bilhetes. Assina a sua marca, marca o milímetro da passagem e o milésimo de segundo da paragem.Sussurra um nome e uma palavra.
Acreditei em esperanças e sonhos que eu própria criei. Depressa constatei que o sonho se tornara vulgarmente triste... De uma espera sem objecto... De uma luta contra o nada...
Ok, e daí? Sim, viro a cara a quem merece. Sim, sou de fitas e tenho paranóias. Sim, tenho percepções sem fundamento, mas com pressentimento. Quero o limite. Já não há paciência. Cinismo. Retracção. Vergonha. Sei lá eu o que te reveste nestes dias que vigoram. Um de nós vai ter k se reciclar. Isso é ponto assente.
E se no final me parecer que o mundo gira ao contrário, ou ao contrário do contrário, seja no sentido dos ponteiros do relógio ou mesmo sem sentido algum, dir-te-ei que fui feliz, naquele momento, naquele dia, ou até mesmo naquele segundo que ficará eterno até o eterno não ter mais sentido."
Ishta 05'

sábado, junho 04, 2005

Uma questão de espírito

Lembro uma passada aula de dinâmica de grupos. A emoção foi incontida. Vivem-se os últimos dias de uma autêntica era que acaba na nossa vida. Motivo de tristeza? Não. Tal como subtil mas eficazmente a professora me fez notar, dou mais valor ao lado positivo da questão, que é como quem diz, à inegável e feliz capacidade de termos criado verdadeiras amizades, incapazes de ruírem com o tempo ou pequenas distâncias espaciais. As etapas são mesmo assim, existem para serem ultrapassadas, vividas na sua máxima plenitude e rapidamente substituídas por outras que nos revigorem a alma. Claro está que existem umas que são mais do que outras, e que por serem algo mais são dignas de serem recordadas. Com choro e melancolia? Não. Em conjunto com quem as vivemos, ao sabor de uma bela jantarada, sim. Porque o espírito, esse, por mais etapas que sejam vividas ou barreiras que sejam transpostas, nunca há-de morrer…

terça-feira, maio 31, 2005

Motivações...

0.36, segunda, perdão, terça-feira nos seus primórdios. Afogado por entre apontamentos de neurologia, entretenho-me a ouvir maroon5 e a engendrar filosofias perdidas. Disfarço a desmotivação agarrando-me ao pc e teclando algumas linhas. Conclusões? Não sei. A minha capacidade de recrutar energias ao baú mais recôndito moeu-se com o tempo, sobressaindo agora uma quase insuportável sinceridade intelectual que me obriga simplesmente a negar tudo o que não gosto, à imagem do miúdo que recusa do pai o rebuçado de morango apenas porque não é adepto do sabor. Pois bem, seguir os instintos poderá ser salutar, mas soa contudo a inconveniente. Refuta toda e qualquer manifestação de desprazer, sacrifício, impede o dispêndio de atenção em actividades de irrefutável utilidade. Estudar neuro? Para quê? Nunca gostei do sabor…

sábado, maio 28, 2005

Dicionário parte I

E já agora, porque não, a estreia da rubrica “O Dicionário”. Aqui vão as duas primeiras palavras:
Banalidade – a maior parte das cenas do filme da vida humana gira à volta de banalidades. É incontornável. Para mim, mais do que isso, é enjoativo. Soa-me a incómodo atraso em tempo de constante evolução. A utilidade das banalidades fica-se pela sua inegável capacidade de conseguir valorizar tudo o que é diferente.
Química – para mim, o significado da química vai muito além daquilo que me habituei a ver nas tabelas periódicas ou nos rótulos dos pacotes de detergente. Pensar que tudo o que se passa no nosso cérebro deriva de meras transmissões de químicos entre neurónios – com as suas consequências em atitudes, comportamentos, sentimentos – é, no mínimo, assustador. Ou será que alguém mantém o seu sorriso de felicidade ao saber que este apenas está dependente de uns nanogramas de neurotransmissor?

Lição n.º 1

Bem, vamos lá então começar a descobrir um bocadinho do sr. astolfo. Lição n.º 1:

Debruço-me constantemente sobre a análise do filosófico, do sentido da vida, da introspecção construtiva. Faço-o por gosto, mas acima de tudo por necessidade. Porquê? Porque simplesmente não tolero a banalidade. E necessito de escapar ao seu domínio. As conversas à mesa sobre o isto ou o aquilo, tão calorosamente abordadas como se de obras de arte se tratassem, cansam a minha paciência em escassos segundos. No entanto, são socialmente aceites e estimadas, mesmo preciosas, no contexto de um processo de são convívio entre as gentes. Daí pensar que esteja a ficar cada vez menos sociável. Menos afoito nos olás, solto nas conversas de circunstância, facilmente “cansado” das pessoas que me vão rodeando no quotidiano. Procurando cultura e sabedoria em todos os passos, como se esse fosse o único caminho passível de ser percorrido na busca pela felicidade.
Salto ora por ora ao domínio do comum por entre divagações “futebolísticas” ou “automobilísticas”. Mas até aí as coisas teimam em não se contentar com o nível do mais básico. Uma simples finta pode ser muito mais do que aquilo que parece. Estarei a tentar alcançar graus de superior inteligência? Sinceramente, não me parece. O processo é interessante, mas nem por isso é capaz de curar inseguranças ou faltas de motivação. Pelo contrário, afasta-me cada vez mais do mundo em que paradoxalmente procuro me inserir. Afinal, para que servirá a cultura ao serviço da inteligência no seu estado puro, se no fundo o que realmente interessa está ao nível da sua “prima” mais rasca, a inteligência emocional?

Xaram!!!

Bem vindos ao “Lugar do Corgo”. Depois de anos de intensa e aprumada preparação, eis que chega a altura do grande passo, de toda uma afirmação de personalidade, da épica descoberta da razão da nossa existência, do supremo êxtase que é… a criação de um blog. Pois bem, agora que tal desígnio foi atingido, limitar-me-ei a mostrar os meus escritos, alguns mais antigos, outros mais recentes, misturando devaneios com intrincadas teorias filosóficas, por meio de confissões sentimentais ou simples desabafos ocasionais. Espero que a mistela resulte. E ah, claro, comentem para aí. Sim, vocês, os cerca de…2 amigos meus que tenham perdido cinco minutos a passarem por cá, depois de devidamente subornados, claro está. Ou então não comentem, estejam à vontade. Portem-se bem.

PS.: Explicava de bom grado o nome desta coisa mas não estou com pachorra para isso. Para além disso, mantenho algum suspense, não é melhor assim?