segunda-feira, maio 14, 2007

Grandmother

Ainda há dias dizia que há realidades que nos ultrapassam. Daquelas que nos é impossível combater ou contrariar, que somente deixam escorrer as inevitabilidades do destino. Lidamos com elas, habituamo-nos a recebê-las e damos o nosso melhor em cada dia que passa em busca apenas de um sorriso que permita afagar a alma.

Se há coisa que aprendi foi mesmo o valor de um sorriso. Aquele que via todas as manhãs, todas as tardes, todas as noites antes de me deitar. Aquela gratidão da alma, genuína como só esta consegue ser, o pequeno gesto, o toque mais singelo quando tudo o resto parece falhar, como uma máquina que aos poucos se desliga sem pedir. Via coragem perante a adversidade, simpatia como último assomo de nobreza de uma vida que se fez grande. Mesmo perante o destino daquelas coisas feias que nos fazem encarar a morte como um mal menor. Mesmo perante aqueles que amamos e que pensáramos não ser possível deixar de nos amar. Mesmo perante as realidades que nos ultrapassam e a cruel impotência que as preenche.

Mas o olhar não mente. Também o aprendi. Quando deixaste de contemplar o mundo pela beleza que ostenta e começaste a senti-lo como derradeira morada. Quando te permitiste a ti própria um descanso do castigo que não merecias. Não te vou censurar…Muito menos por esta data… A coincidência como um logro. Apenas e só uma na sua mais pura plenitude. Admirar-te-ei, sempre…

“vou lá ter, vó…” Talvez um dia…Por agora o teu quarto…fica simplesmente vazio.

PS.: Uma palavra para os amigos: os melhores

quarta-feira, maio 09, 2007

Coisas e isso...


Nunca pensei muito na miserabilidade da vida. Obviamente, porque não a contemplo nem tenho tempo para admirar esse tipo de sofismas. A não ser quando o tempo pára. E apetece empurrá-lo para a frente, qual carrinho de supermecado, atolado de compras desnecessárias. Aqueles momentos da vida em que o nexo das coisas é tudo menos um dado adquirido. Quanto mais, sobra uma confusão de ideias e sentimentos, um monte de fios embrulhados difíceis de alinhar. Procura-se, no fundo, um destino que nos conforme. Porque, tal como há dias me dizia amigo próximo, há quem se contente apenas com um telemóvel novo e um círculo de amigos no tasco após o jantar. A busca pela simplicidade das coisas tem esse inegável preço que passa pela sua complicação, pelo menos para quem se ousa questionar, indagar, permitir a si próprio cinco tostões de reflexão e meio tostão de troco, conclusões baratas, inverosímeis, caminhos tortuosos e tentadores.

Bastaria porventura um chão firme que sustentasse o meu peso. O mesmo chão que em tempos ostentou sucesso. No fundo, uma amálgama de sonhos infundados, confesso, mas com coerência mínima para poder ser levada a sério.
Agora procura-se talento. Uma forma digna de retomar esse trilho de outrora. Torneando vícios entretanto criados, o amargo da desilusão, o peso do insucesso. Ou simplesmente o resultado da mudança, da fraca inteligência emocional, o que importa? Quantas vezes sorri para o céu em busca de redenção...

Afinal quem serei eu? É a pergunta pela qual me bato a cada dia que passa, cada vez mais convencido que nunca serei capaz de lhe responder. Talvez porque a inconveniência da resposta me assuste. Talvez porque tema, por vezes, descobrir. Talvez porque nessa busca incessante de horas e dias e acções e loucuras e simples gestos inocentes nos esqueçamos da nossa interacção com o mundo e tudo o que nos rodeia. Haverá acção mais egocentrista? Creio que não. Mas o defeito da coisa não esconde a sua suprema necessidade. Ironicamente para melhorar a nossa predisposição para o mundo, e consequentemente, a nossa relação com os outros. Ou simplesmente porque antes de conhecer bem os outros tens forçosamente que te conhecer a ti próprio...

Já lá vão seis queimas. Recordo todas, desde o maço de tabaco da Vera até aos videos marados dos quatro fantásticos e as repas gigantes. Desde as bebedeiras e as ressacas na Constituição, às bengaladas do 4.o ano, passando pelas futeboladas e francesinhas do Requinte, cada vez mais uma tradição. Recordo com orgulho e aquela noçãozinha nostálgica de que cada coisa tem mesmo o seu tempo. Porque as coisas só começam realmente a ter piada, tal como diz o Dani, quando o nevoeiro se levanta. E então aí entramos num mundo à parte dos demais. Um mundo que o meu mundo já não contempla. Nem tem, obviamente, que contemplar...


"A vida é a arte de tirar conclusões suficientes a partir de premissas insuficientes."

Samuel Butler