segunda-feira, dezembro 25, 2006

Christmas divagations


Há dias fui obrigado a comprar uma peça nova para o carro. Até aqui tudo bem, mas só até à parte do preço. “É caro mas bom!”, argumentava a senhora. O que me dá margem para toda uma série de divagações. Não que importe discutir a valia técnica do componente, a forma como encaixará na perfeição no conjunto da máquina ou até como fará o veículo chegar aos 100 em 5 segundos. O que interessa verdadeiramente aqui é o conceito subjacente, isto é, tudo o que é bom terá de ser efectivamente caro? Ou posto por outras palavras, tudo o que é bom tem um preço?

A questão coloca-se permanentemente na nossa vida. O sacrifício pessoal é algo de nobre, mas por vezes inútil. Os esforços medem-se em escalas diferentes, como se de sistemas de medida independentes se tratassem, porque o mundo é mesmo assim, pleno de diversidade e mentalidades.

Para sempre perseguirei as razões do ser, do agir, do acontecer. Não importa a forma, as consequências, mas a busca em si, o objecto do gesto, se calhar nunca as respostas, mas a pergunta por si só. É a última fronteira que me separa da loucura, de um sistema de vida conformado e dogmático, sem ponta de irreverência pela qual esta passagem faça sentido. É o meu último reduto, o meu último refúgio, aquilo a que me agarro naquelas noites mais difíceis antes de adormecer. Sim, logo a seguir aos pensamentos auto-destrutivos e à tentativa infrutífera de trazer mais alguma justiça a este mundo. Logo a seguir a descobrir que sou paciente, porventura chato, excessivamente obcecado em ideias e assuntos de mentalidade e afins, honesto até uma permissividade que me arrasa. Mas livre.

Talvez por isso esteja a escrever sozinho, ao sol, em plena tarde de Natal. Sozinho não, tenho a minha avozita, vergada pelo peso de uma dessas coisas que não fazem sentido na vida, sentada a meu lado. E isso orgulha-me.

1 comentário:

Daniel C. disse...

Excelente, como já nos habituaste!

Um grande amigo meu disse-me, um dia, que o meu grande problema era ser demasiado inteligente e que por isso estava condenado a sempre querer saber as causas e os motivos que levavam certas coisas a acontecerem. Lembraste?

Ainda não compreendi porque certas coisas acontecem... a verdade é que a maioria delas não deveria acontecer... no meio de tanta coisa é tão fácil perder essa noção básica de justiça e coerência, será que existirá?

Será que como peças de um carro, a justiça, a lealdade, a coerência, a bondade e outras tantas coisas só podem acontecer se forem caras, se pagares um preço elevado por elas? Quantas vezes desejei pagar esse preço, quantas vezes desejei pagar com o que tinha de mais importante em mim esse preço não só por mim, mas por outros... mas no fundo descobres que há preços que não podes pagar, e isso é que é verdadeiramente injusto, como essa "coisas que não fazem sentido na vida"...

Não tenho resposta para ti.
Mas digo que o teu orgulho e aquela tarde de sol é a coisa mais justa e merecida neste mundo por alguém!

Gd Abxo

P.S. é que não se pode mesmo perder para sempre ;)