quinta-feira, junho 05, 2008

Contradições


É bom sentir por vezes, quando o sol se começa a pôr de mansinho, aquele suave toque dos pequenos raios que se esmurecem, por entre o desarmar surdo das pessoas em fim de jornada.

E é naquele silêncio de fim de tarde que me refugio para me encontrar com o pensamento. Gosto da plenitude desse vazio, sim, gosto de sentir que o todo se pode reduzir a um mero esfumar de sensações. Gosto, essencialmente, de naquele momento não ter que tomar decisões. Simplesmente assistir e entregar-me à paz daquele agradável calorzinho que surge antes do anoitecer.

E é, aliás, no preâmbulo deste momento que ouço palavras reconfortantes em relação ao futuro. Paradoxalmente entusiasmado, uma vez que estas até apontam naquele sentido comezinho da desgraça. Ora lá está, fazem-me sentir não ser o único a pensar que as coisas às vezes se tornam demasiado difíceis. Como o tinha pensado hoje de manhã. E ontem à noite. E na noite antes da de onteontem, enquanto observava as minhas emoções a desenvolver-se em algo fora do meu controlo.

O mais estranho, contudo, parece-me ser o não conseguir alcançar toda a razão do meu sofrimento. Não compreendo a natureza das coisas e isso mata-me, abate-me silenciosamente. Sinto-o como um mal inultrapassável. E no outro dia acordo como que absorto, pronto para lutar mais uma vez em busca de respostas impossíveis. Neste ciclo vicioso de um qualquer jogo de casino em que a única coisa que sobra são meia dúzia de dívidas.

Valham-me os pequenos prazeres do amor, das ilusões e daquelas pessoas que nos fazem querer viver até à exaustão. Tudo o resto são meras contradições.

Sem comentários: