
Acordou zangado. Os raios de sol que irrompiam pela janela aqueciam a cara, mas não a alma. A noite, demasiado longa, apagara aquele assalto de inegável felicidade como se de uma tempestade em dia de Verão se tratasse. Pensava em como a beleza alheia podia ser estranhamente incómoda, não pelo seu significado em si, mas sim pelo peso que acarretava. Sentia que a desigualdade seria sempre um fardo com o qual teria de lidar, o quão pequenino se parecia sentir perante tamanhas demonstrações de excelência e graciosidade. Adormecera cor-de-rosa, mas acordara cinzento. Os acessos de realismo exacerbado tinham este condão, o de cortar sem piedade aqueles pequenos momentos de plenitude, de harmonia, de felicidade…ou talvez ilusão… Sentia-se impotente. Incapaz de chegar ao topo, mais uma vez. Convencera-se a si próprio por momentos que saíra da mediocridade e conquistara a dignidade de igualar em estatuto a beleza, mas em vão. Era linda...ou apenas sonho?