segunda-feira, novembro 06, 2006

Sucesso


Hoje fui o último a sair do balneário. Apetecia-me sentir até ao último assomo da sua existência temporal aquele saborzinho da vitória, aquele eco dos festejos, aquele trago de sucesso que senti também ser meu. Acima de tudo sentia-me útil. Aquilo a que os mais românticos chamarão a “sensação do dever cumprido”. O sucesso será sempre mais uma ferramenta de medição das coisas, bem sei, não comparável à rectidão de uma fita métrica ou de um conta-quilómetros, mas ignorando-se as intromissões de invejas ou afins, o seu valor é inegável e de longe o mais reconhecido. Tem o poder de esquecer agruras e relevar optimismos. De afastar maus augúrios e exacerbar agradecimentos. Mas também a capacidade de por ténues momentos, pelo meio dos seus exageros, arrastar consigo a justiça…

Apertei o casaco e olhei uma última vez para a bancada agora vazia. Ao fundo as nuvens laranja, silenciosas companheiras de cenário, em último vislumbre de tranquilidade… Era tempo de voltar à vida, às perrices, aos distanciamentos indevidos, às pressões, aos egoísmos, às reflexões de pé de chinelo e um mais não sei quê de algo que não importa.

Deixemo-nos por momentos de apertos indevidos. Já bastam as amarras da mente, aquelas que nos incomodam quando a sorte tudo torna fácil, demasiado simples para aqueles pensamentos intrincados. Há-de vir sempre mais uma filosofia, um estigma que teime em estragar e tirar o sentido das coisas.

Deixem-me por momentos respirar o ar de fim de tarde, relaxar ao sabor de uma tranquilidade doce, sentir a brisa, não o vento, desligar o rádio e seguir caminho em estrada aberta…

Deixem-me parar de ser injusto, de procurar incessantemente a justiça, de ter medo de arriscar, de arriscar quando não sei, de não pensar antes de agir, de viver a vida a pensar…

Libertem-me as amarras da mente, os complicómetros da vida, deixem-me alcançar a realização, deixem-me ousar seguir o trilho… em direcção ao sucesso.
PS.: Não tenho outra tradução para a injustiça: desculpa-me.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não mereces nada menos que isso: muito sucesso :)

E um beijinho repenicado :P

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